domingo, 11 de dezembro de 2011

Movimentos Sociais de Raça

No Brasil desde a época da escravidão que a população negra vinha criando mecanismos de resistência e oposição ao regime escravista, nesta época podemos observar os quilombos, que era lugares com proteção natural onde os escravos fugidos se escondiam e formavam lá comunidades, que possuíam um líder, grupos que iam a caça, grupos que protegiam a comunidade, grupo que plantava, enfim cada um tinha o seu papel. Assim organizados dessa maneira os negros\as que conseguiam fugir, imprimiam sua forma de resistência e oposição ao regime escravista, sendo o mais importante deles o quilombo dos palmares.

Após a abolição vieram outros movimentos que possibilitaram aos negros\as uma melhor convivência social. Essa população recém liberta era vítima de muitos preconceitos e discriminações, tinham a mão-de-obra preterida sob a alegação de que não eram tão qualificada quanto a branca européia, eram impedidos de entrarem em alguns lugares, foram obrigados a ocuparem locais periféricos, mais afastados das cidades (principalmente os morros) pois o governo não adotou nenhuma medida de proteção ou socialização dessa população recém liberta e expulsa das propriedades de seus senhores.

Assim, como forma de resistir aos desmandos dessa sociedade, buscar uma melhor qualidade de vida, bem como se opor ao preconceito racial existente na sociedade fazendo assim uma articulação política na sociedade,  os negros\as se organizaram em movimentos sociais, geralmente custeados por mensalidades que os associados pagavam, os principais movimentos foram:

Frente Negra Brasileira (FNB) - Teve inicio em 1931, seu objetivo era trazer proteção social e cidadania a população negra, muito discriminada socialmente.

A frente promovia festas, bailes, disponibilizava salão de beleza, prestava assistência médica, hospitalar, farmacêutica e funerária aos associados através da caixa beneficente, fazia ainda serviços profissionalizantes por meio da oferta de cursos. Enfim, ela foi um meio de viabilizar cidadania a população negra, pois na época o Estado não oferecia serviços universais e os negros\as não podiam frequentar vários espaços de lazer, também eram preteridos no momento de inserção no mercado de trabalho, os empregadores alegavam que a mão-de-obra não era qualificada, motivo pelo qual a FNB oferecia cursos profissionalizantes.

A Frente era mantida por mensalidades pagas por seus associados e dirigida pelas pessoas mais estudadas do movimento, chamadas de elite negra.

Na FNB ainda circulavam informativos que criticavam a forma com que os negros eram tratados, que falava sobre o racismo dando uma articulação política a frente, isso fez com que ela virasse um partido político vindo a cair na ilegalidade no estado novo, voltando a ressurgir após ele.

Teatro Experimental Negro (TEN) – surgiu com Abdias do Nascimento que em visita ao Peru foi ao teatro assistir a apresentação de o imperador Jones, de Eugene O’Neill, era  uma peça que falava sobre negro e sobre racismo, mas interpretando o papel principal havia um ator branco tingido de preto, então Abdias teve a idéia de fundar um grupo de teatro negro e ao trazer a peça para o Brasil um negro teve o papel principal.

O TEN lutava não só contra a discriminação nas artes, como também em todas as áreas da vida social, no pós estado novo o TEN foi outro movimento negro de muita expressividade, ele exigia que a identidade negra fosse reconhecida, não aceitava o branqueamento social (inserção e aceitação do\a negro\a no mundo dos\as brancos\as, através da assimilação de comportamentos de brancos\as por parte dos negros\as), eles queriam que as diferenças fossem reconhecidas enquanto diferenças, mas não transformadas em desigualdade.

O TEN veio a se desarticular durante a ditadura militar, tendo alguns membros exilados, como foi o caso de Abdias, mas voltou a se articular no período de redemocratização.

Movimento Negro Contra a Discriminação Racial – entre as décadas de 60 a 70 inicia-se um movimento cultural de combate a discriminação e afirmação do negro como bonito, parte da população negra (os mais jovens principalmente) passam a usar roupas coloridas, a deixar o cabelo natural e usar maquiagens de cores vibrantes.

O Brasil nessa época também passava pelo milagre econômico o que levou alguns jovens negros as universidades e lá reuniram-se com outras minorias, judeus\ias principalmente, para discutir racismo, fundaram então o movimento negro contra a discriminação racial, que era um movimento social de luta contra o racismo e em prol do fim da ditadura.

União dos Homens de Cor (UHC) – movimento surgido no sul do país em 1943 desejava incluir os negros\as no projeto de nação brasileira, para tanto visava entrar na política.

Movimento Anti-racista de Mulheres – as mulheres se inseriram e eram ativas nos outros movimentos (FNB, TEM e Movimento Negro Contra a discriminação Racial), mas esses movimentos ainda aeram extremamente paternalistas, não dando tanta visibilidade as mulheres.

Por conta dessa postura dos movimentos autoras como Maria Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez passam a pesquisar e escrever sobre a condição da mulher negra na sociedade, elas afirmam então que a trajetória da mulher negra perpetua a relação existente desde a escravidão, essas mulheres continuam fazendo basicamente o mesmo trabalho nas áreas rurais e nos centros urbanos ocupam cozinhas alheias sendo domésticas ou cuidam dos filhos dos outros, mais ou menos o mesmo trabalho executado na época da escravidão com a diferença de que agora é remunerado, ainda que sem proteção social.

Nesse período começa-se uma reflexão sobre a condição feminina na sociedade, principalmente da mulher negra, que é duas vezes discriminada, uma por ser mulher e a segunda por ser negra. Partindo dessas reflexões inicia-se a fundação de coletivos de mulheres negras como Maria Mulher, Geledés, Crioula, entre outros, esses grupos tinham o objetivo de oferecer apoio mútuo, um lócus de convivência e lazer, bem como funcionar como um local de organização de demandas e luta por elas.

Foi a partir de 1980 que as mulheres negras, se entendendo como diferente das de mais por sua dupla discriminação, resolveram criar esses espaços para dar vazão as suas demandas, sendo as principais reivindicações delas:
  • Autonomia reprodutiva;
  • Cumprimento, por parte do Estado, dos direitos básicos de todos os cidadãos;
  • Combate ao racismo e a discriminação;
  • Melhoria na condição de vida dos afrobrasileiros;
  • Reconhecimento social;
  • Participação política.


Referências:
 Políticas Públicas e Raça. Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP-GeR: módulo 3. Organizadoras: Maria Luiza Heilborn, Leila Araíjo, Andréia Barreto. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, 2010.

Passaram-se décadas alguns movimentos desapareceram da arena pública, mas a o preconceito de raça ainda persiste, assim tivemos algumas idéias visando diminuir e\ou reverter esse quadro essas são:

  • Inserir na grade curricular das escolas municipais uma disciplina específica para contar a história, costumes, aspectos biológicos (doenças mais frequentes) e outras curiosidades sobre os negros e as minorias discriminadas na sociedade, acreditando que o conhecimento é agente de mudanças e conhecer o outro pode ser capaz de diminuir preconceitos existentes.

Há uma lei que versa sobre o aprendizado (obrigatório para todas as escolas até o ensino médio) da cultura e história da população negra em todas as disciplinas, cada uma fala sobre o assunto de acordo com sua área, trata-se da lei 10639\2003.

Baseados nessa lei se faria essa implantação, que requisitaria estudos para verificar a melhor forma de inserção e conteúdo para cada escola, isso porque cada uma possui uma realidade social diferente, para tanto se utilizaria da equipe escolar mesmo, pois ninguém melhor para saber do que se necessita se não os próprios agentes.


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