domingo, 11 de dezembro de 2011

REFLEXÕES SOBRE AS MULHERES NEGRAS.

Durante anos as relações raciais e de gênero foram alvo de debates tanto no movimento sindical, quanto nas políticas públicas – pelo menos as anunciadas em campanhas.
Diagnósticos contundentes ganharam destaques na imprensa, reafirmando informações que deixam clara a preocupante participação da mulher negra no mercado de trabalho, ainda que tenhamos experimentado alguma melhoria tanto na inserção, quanto na mobilidade.
Uma das principais preocupações, e que nos parece ser a mais difícil de ser superada é a discriminação entre as mulheres. Tal preocupação ganha notoriedade quando observando as conquistas obtidas pelas mulheres, a mulher negra ainda não consegue usufruir em igualdade de condições com a mulher branca, o que nos faz questionar os motivos, uma vez que, as lutas foram em prol das mulheres independentemente da cor.
Algumas constatações justificam nossa preocupação, e dentre elas, destacamos:
- O salário médio da trabalhadora negra continua sendo a metade do salário da trabalhadora branca;
- A trabalhadora negra continua sendo aquela que se insere mais cedo e é a última a sair do mercado de trabalho;
- Mesmo quando sua escolaridade é similar à escolaridade da companheira branca, a diferença salarial gira em torno de 40% a mais para a branca;
- Mulheres negras têm um índice maior de desemprego em qualquer lugar do país. A taxa de desemprego das jovens negras chega a 25% - uma entre quatro jovens negras está desempregada;
- Mulheres negras estão em maior número nos empregos mais precários. 71% das mulheres negras estão nas ocupações precárias e informais; contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos;
- Os rendimentos das mulheres negras em comparação com os homens brancos nas mesmas faixas de escolaridade em nenhum caso ultrapassa os 53% mesmo entre aqueles que têm 15 anos ou mais de escolaridade.
As lideranças políticas e de movimentos sociais quando se manifestam insistem em apontar como solução para a situação da mulher negra as políticas universais, mesmo sabendo que tais medidas não diminuem as diferenciais entre negros e brancos, ou entre brancas e negras.
Dessas recomendações, merece destaque o fato de que a idéia de ações afirmativas provocou um acalorado debate público, pois acreditam alguns que está aí a solução de todos os problemas.
Argumentos contrários às ações afirmativas não faltam, e não podemos creditá-los somente aos discursos reacionários ou alienados, mas também naqueles proferidos por lideranças que se dizem progressistas e preocupadas com as desigualdades em nosso país.
O certo é que todos os programas voltados à implantação de ações afirmativas necessitam de uma avaliação crítica, e uma participação mais efetiva do Movimento Negro, pois os argumentos usados para justificá-los não se sustentam, e revelam falta de informação básica não só dos proponentes como da sociedade em geral, que na verdade, será o maior contribuinte para que tais ações surtam os efeitos esperados. Falta ainda uma reflexão sobre a grande resistência à implantação de ações concretas contra as desigualdades cujas origens estão ainda presentes nas bases da sociedade: a família e o ensino.
Pela resistência apontada, as ações afirmativas são tidas como assistencialistas, como: "privilégio de negros"; de fomentador de discriminações que acirram o ódio dos brancos; inconstitucionais por criarem um diferencial dentro do conceito de isonomia; dentre outros tantos.
No campo de combate às desigualdades o que ainda prevalece é o discurso, pois a prática ainda enfrenta severa resistência, pois obriga as partes a repensarem lugares de poder e de privilégios, ocupados e usufruídos apenas por brancos e brancas, seja em qualquer instituição que seja alvo dessa discussão.
Esta resistência, este posicionamento tímido no movimento político, sindical e social frente às violações dos direitos das trabalhadoras negras, cabe questionar:
- As mulheres no âmbito do movimento sindical lutam por igualdade de tratamento e oportunidade para todas as mulheres, ou gênero é um assunto somente para mulheres brancas?
- A indignação com relação à violação dos direitos das trabalhadoras é somente voltada para as brancas, ou incluem as negras?
- Há quase 30 anos a luta contra a opressão de gênero aponta o mercado de trabalho como aonde ocorre o maior número de discriminações. Apontam ainda que suas maiores vítimas as mulheres negras. O que falhou até agora?
Vemos com grande preocupação que as respostas para estas questões existem, contudo, a ausência de um efetivo interesse em erradicar este câncer da sociedade está presente não nos discursos, mas nas ações.
Quando se fala em lutas femininas em prol de uma igualdade de tratamento e oportunidades no mercado de trabalho, recordamo-nos daquelas que, numa época em que tinham que primeiramente comprar a sua liberdade, conseguiu vencer e se destacar na sociedade, não com os benefícios de políticas públicas, ou de leis, mas com o esforço individual.
Nesta luta solitária, várias mulheres se tornaram livres, e foram grandes proprietárias de terras/escravos e comerciantes. Se ficassem aguardando os efeitos práticos de discursos políticos, acreditamos que teriam falecido em suas senzalas sem contribuírem com a história deste País. Esta história que falta ser contada para nossos filhos, e para os filhos destas mulheres negras que se vêem discriminadas até mesmo por outras mulheres.
Os educadores de adultos acreditam que a alfabetização é uma chave para outro mundo. A pobreza é um obstáculo para a aprendizagem. Quase um bilhão de pessoas no mundo não pode ler ou escrever ou têm dificuldades com essas habilidades.
No Brasil, o sucesso da nossa educação é mascarado na medida em que a aprovação dos alunos está intimamente ligada à liberação de verbas públicas, e isto contamina a sua qualidade e seus objetivos mais nobres.
A abolição da pobreza, muito embora seja um desafio comum, não deve ser tratada com leviandade, ou como se fosse uma moeda de troca. Nós podemos mudar a sociedade, basta que levemos o ensino de nossos jovens a sério, defendendo desde cedo a igualdade tão defendida nos discursos e nas leis, pois somente assim, sairemos do imaginário e vivenciaremos a prática.


Autor: Benair Scarlatelli Storck.


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